quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Prosaísmo Imperfeito

Deitada em sua cama, desfazendo fantasias infantis sonhadas na noite passada, ela sorria. As curvaturas de seus lábios logo se assemelharam ao trejeito que as labaredas incendiárias do sol ardiam sobre o céu azul. O som estava calado até pássaros decidirem acabar com seu sossego, gritando para que o mundo acordasse. Já era dia, pois. E mais que dia, já era hora. Seus lábios não perderam as curvaturas, pelo contrário, angularam-se acentuadamente em um mísero prefácio para uma possível tentativa de abandonar os lençóis. A libido ainda dançava, nua, pelo quarto e gloriava-se de seus prazeres e conquistas, espalhando o cheiro de suor e amor que não abandonaria as paredes tão cedo. Rascunhos perfeitos de uma noite mal escrita arranhavam a parede como se alguém os tivesse atirado sem a mínima piedade ali. Pesarosas se estendiam as marcas do incêndio desencadeado por dois corpos pouco conhecidos e muito desejosos. Riam-se as peças de roupa espalhadas pelo chão, mal se importando da negligência com a qual foram tratadas. O amor era presente, onisciente, onipotente. Ali. E agora dois ângulos perfeitos se encontravam, num compasso infinito, fazendo a cortesia inicial para que os olhos, feito reis, chegassem com a festa pronta. Reis e rainhas presentes e dispostos frente a frente, sem se reconhecerem, e mesmo assim se cortejando. Amando. Como uma breve cena antes do clímax, mãos se procuram buscando a quebra do espaço interposto. Puro amor. E quando, finalmente, abandonam a majestade os olhos se abrem. Só que já é tarde. O sol está a pino. A vida está a pino, porém escolheram pular o bom dia. E esquecendo-se das amarras, fecharam-se novamente, abandonando toda e qualquer possibilidade de dizer que aquele sonho havia acabado antes que fosse noite novamente.