quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Prosaísmo Imperfeito

Deitada em sua cama, desfazendo fantasias infantis sonhadas na noite passada, ela sorria. As curvaturas de seus lábios logo se assemelharam ao trejeito que as labaredas incendiárias do sol ardiam sobre o céu azul. O som estava calado até pássaros decidirem acabar com seu sossego, gritando para que o mundo acordasse. Já era dia, pois. E mais que dia, já era hora. Seus lábios não perderam as curvaturas, pelo contrário, angularam-se acentuadamente em um mísero prefácio para uma possível tentativa de abandonar os lençóis. A libido ainda dançava, nua, pelo quarto e gloriava-se de seus prazeres e conquistas, espalhando o cheiro de suor e amor que não abandonaria as paredes tão cedo. Rascunhos perfeitos de uma noite mal escrita arranhavam a parede como se alguém os tivesse atirado sem a mínima piedade ali. Pesarosas se estendiam as marcas do incêndio desencadeado por dois corpos pouco conhecidos e muito desejosos. Riam-se as peças de roupa espalhadas pelo chão, mal se importando da negligência com a qual foram tratadas. O amor era presente, onisciente, onipotente. Ali. E agora dois ângulos perfeitos se encontravam, num compasso infinito, fazendo a cortesia inicial para que os olhos, feito reis, chegassem com a festa pronta. Reis e rainhas presentes e dispostos frente a frente, sem se reconhecerem, e mesmo assim se cortejando. Amando. Como uma breve cena antes do clímax, mãos se procuram buscando a quebra do espaço interposto. Puro amor. E quando, finalmente, abandonam a majestade os olhos se abrem. Só que já é tarde. O sol está a pino. A vida está a pino, porém escolheram pular o bom dia. E esquecendo-se das amarras, fecharam-se novamente, abandonando toda e qualquer possibilidade de dizer que aquele sonho havia acabado antes que fosse noite novamente.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Wishes.

Eu quero ir embora da minha vida. Para um sobradinho bem colocado e esquecido no alto da montanha, onde Aristóteles perdeu as botas,  largou a matemática e toda a filosofia do mundo. Sentir o corpo coberto de lama por andar rastejando, braços e pernas cansados da pseudo-maratona contra ninguém. Deus e eu. Apenas. E talvez um café para acompanhar o ritmo desacelerado e campiano. Frequentar a caverna dos desesperados, dos sem alma e dos apaixonados. Vezes fanáticos, vezes gente comum, vezes cultos e vezes promíscuos. A caverna de todos. O buraco. É para lá que quero ir.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Segredos públicos.

Não me conte segredos, não os quero. Dispenso responsabilidades adquiridas, então me poupe do trabalho de esgotar suas expectativas. Fala de segredo como se fosse algo seu, não do mundo. Ora, tenho algo a lhe dizer: se pode contar a alguém, simplesmente não é segredo. Nada na vida é segredo, tudo é compartilhado. Ao pé do ouvido, da escada, do microfone, do megafone. Nada é segredo. Nem você, nem eu, nem o que contou por ai e pediu para que não fosse repetido. Clamamos por uma confidencialidade que nem nós mesmos podemos cumprir, e ainda temos a cara-de-fuinha de cobrar um segredo que não seguramos na língua. E é isso. É só isso. Assim como o vento é descolorido aos olhos e presente ao corpo...

Os segredos são públicos.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Ressaca.

"Felicidade só é verdade quando compartilhada", Christopher McCandless.

Você é livre para abrir a porta, sair de casa e caminhar pelas ruas. É olhar para o céu, para a rua, para o mar, para o outro e para onde quiser. Liberdade é vestir a roupa que quiser, mesmo fazendo uma combinação esdruxula, e sair para a rua. Ou nem vestir, deixar-se nu a caminhar pelos cantos revestidos de vazio das paredes de casa.

Mas isso não é nada.

Você pode largar tudo, correr o mundo e esquecer o que deixou para trás. Passado é passado. Futuro caminha a passos largos, esperando ser alcançado. Pode ser feliz sem contar para ninguém ou fingir que é feliz escondido em cantos obscuros do mundo. Felicidade não anda sozinha, e quando anda, é uma mentira tão mal contada que faz tremer pestanas de tanta falsidade.

Felicidade não existe sozinha.

Então é isso mesmo que estou dizendo. Você, no meio dessa ideologia barata e terrivelmente formulada de que é o bastante em si mesmo, sofre as escondidas como um cão perdido em uma intensa chuva de relâmpagos. Quase um gato, fazendo-se de difícil e estampando sua personalidade altamente Housitana de antissocialismo precário.

Felicidade não é suficiente em si.

Pode se espremer contra a parede. Sei que é complicado abraçar a verdade, mas ela está ai. Enquanto senta em sua poltrona puída, tomando café gasto da semana com adoçante, refletindo sobre seu superego exacerbado, suando a própria prepotência e cultivando uma fenocópia de felicidade num vaso qualquer largado na janela, a felicidade corre lá fora. Liberta de você.

Seja lá o que for, não é o que tem ai.

Ou o que tenho aqui.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Linha amarela

Com trilha, a quem interessar desabafos descompensados: Hearts a Mess - Gotye.

Moment of honesty, someone's gotta take the lead tonight.
Whose it gonna be? I'm gonna sit right here,
And tell you all that comes to me
If you have something to say, You should say it right now.
Hoje o dia está latente. O silêncio que o consome bate em todas as paredes, nos móveis, na porta e converge em um grito de surdez que surra meus ouvidos. A cada momento as marcas do espancamento se evidenciam em meu rosto, tudo para não me deixar esquecer e deixar claro, sempre que pousar meus olhos sobre o espelho, que nada está em seu devido lugar.

Eu que andei sempre de braços dados com a solidão, agora a estranho. Parece que a proximidade nos distanciou, como uma leve névoa que tomou espaço, fechou o tempo e acabou com a proximidade. Assim como aconteceu conosco. Você, eu. Nós. Você, neblina, eu. Sós. Como se nada no mundo conseguisse me fazer te enxergar direito, do jeito que via antes.  

Não posso mais perder tempo refazendo cálculos que me impediram de prever a mudança no clima. Nenhum dos números estava errado, nem os meus ou os seus. Era a conta matemática perfeita, a promessa de sol para o resto dos dias. Tenho certeza disso porque o estoque de roupas de verão continua guardado em meu armário, perfeitamente passado e engomado. Você também deve ter algumas coisas guardadas por ai.

O erro não foi meu. Não foi seu. Não foi do universo, nem do cosmos, nem dos seus ou dos meus amigos. Foi só uma precipitação. Sua e minha. Antes de guardarmos a roupa, limpamos o armário com aquele produto que tínhamos guardado para quando a estação certa chegasse. Pelo menos eu o usei. Aquele que experimentamos em outros tempos e aperfeiçoamos de acordo com o que achamos melhor. O meu tinha cheiro de novo, poesia, cinema, inconstância, seriedade, amor, amor de Pessoa, de Moraes, de Buarque e uma leve dose de idealismo. O seu cheirava mais a necessidade, pressa, humor, sexo, leveza, grude, conversa, conhecimento, sobra e contentamento. E ai que nós guardamos as roupas nesse armário, elas  impregnaram com o cheiro e, quando chegamos perto, o  seu odor misturado com o meu não resulta em uma mistura homogênea, gostosa... Resulta em nulidade. O meu anula o seu e vice versa.

Agora posso enxergar com mais clareza que nos jogamos em um poço escuro, acreditando que o sol nasceria e os raios iluminariam lá no fundo, permitindo que nos enxergássemos. E o cheiro não seria importante. Poderíamos ver e assim buscar o cheiro chamante pelos olhos, negligenciando o que nos afastava. Fugimos da verdade. Fugimos de tudo.

Só que a venda que o amor usou para cobrir nossos olhos não durou muito tempo, era fina. Seda pura, transparente. Precisa ser cuidada com uma delicadeza que não possuímos. Nós a rasgamos e nem percebemos. Abandonamos pelo caminho, denunciando nossa irresponsabilidade, e corremos direto para o poço. Corríamos tanto que não quisemos parar para entender o que havia caído por terra. Não paramos para descobrir se sobreviveríamos ao que perdemos.

Então, sem a venda, sobrou o amor. A neblina. A neblina dentro do poço, sem sol, sem verão, sem cheiro e sem visão. Sem você, eu. Sem nós. Sós. O amor ainda como companhia, mas eu com o meu e você com o seu. Tomando o espaço em mim que estava reservado para você e ocupando o meu espaço ai.

Não foi por falta de avisos. Talvez as desconfianças do passado, as negações e os medos fossem um aviso de que o mundo tentava nos avisar que a venda caíra e nós corríamos para um buraco escuro que abreviaria nosso verão. E se você tivesse acreditado - a ponto de desistir - nas mentiras, será que estaríamos no buraco agora?

Precisamos justificar o que temos agora, depois do silêncio. O metrô. Eu em uma plataforma, você na outra. A linha amarela guarda minha precaução de me manter perto, seguramente protegida por um pequeno espaço da plataforma. Vejo você do outro lado, sorrindo, chamando. O trem se aproxima. Nele você se vai. Não tenho tempo para correr pelo espaço que nos separa. Inevitavelmente serei atingida. Você ainda sorri, e tenho certeza que sabe que não posso escapar sem me perder um pouco no caminho. Os vagões somam minhas concessões passadas, meus sacrifícios. Como se estivesse prestes a morrer por meus próprios atos. Você sabe. Sorri. Conto os passos. Os mesmos passos que me separam dai, te separam daqui. Se correr, é você quem se perderá um pouco no caminho.

Podemos nos encontrar no meio do caminho, mas não confio que, se pular, correrá ao meu encontro. Pedirá para que eu vá até o fim, como sempre fez. Que é mais cinco passos para quem já está no meio, não é?

Dessa vez aguardarei atrás da linha. Aguardarei o silêncio. Aguardarei os dias.

Até que algum de nós perceba que o amor que nos uniu é a mesma linha amarela que nos separa.

Ps.: If you ask me I'm ready.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Porque coisa boa a gente compartilha

Patricia Pirota é uma das pessoas mais fofas, perspicazes, inteligentes e divertidas pessoas que tenho a honra de acompanhar (oh yeah, online). Tem um blog lindo e um canal literário bom demais da conta. Já não bastasse tanta coisa boa, ainda nos presenteia com pequenos pensamentos como esse.

Acalento à solidão [Poemetos]


Construí todas as imagens
com restos de palavras
respingadas em café.
Subordinei todos os desejos
à existência de irregulares particípios.
Acho que sei o que quero...
mas dias como esse
sopram minhas cinzas
escondidas nos cantos do mundo.
Conjuguei todas as possibilidades
em meus tempos infinitos
Tudo para tentar compor vozes
que pudessem renovar minhas almas
e acalentar minhas solidões.

Patrícia Pirota
2006

Não perde tempo, não. Corre e aproveita tudo de bom que a Patricia já postou pra gente.

Avesso

De uma perdição
mal contada que só
pôs-se em flor

Em meio à falta
de amor,
desflorou

E quando entendeu
sem desaforos,
enfim, amou.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Descrônica.


Fonte

“Cause I'd rather feel pain than nothing at all” - Pain, Three Days Grace

Os ventos cortantes que invadiam a cidade tornavam-na vazia, já que os habitantes de Londres decidiram ficar dentro de suas casas, com o aquecedor ligado na potência mais alta, para fugir do outono gelado. Este dava indícios de como seria o inverno que não tardaria a chegar. As árvores lutavam contra o vento para não perderem as últimas folhas laranja que sobraram nos seus galhos compridos que apontavam para a lua, como em uma última prece para que a primavera não demorasse muito para dar as caras. 

Alguns londrinos festeiros não ligaram para a sensação térmica de trincar os dentes e saíram para aproveitar aquela noite fria de sexta feira. As poucas pessoas que podiam ser vistas caminhando pelas ruas estavam vestidas com dezenas de casacos, adquirindo uma aparência obesa. Essas pessoas logo entravam em algum dos pubs que podiam ser encontrados em praticamente cada esquina e, assim, davam início a uma noite nada fria regada a chopp e cerveja.

Caminhando pelas ruas, uma menina loira de grandes olhos verdes divertia-se vendo como algumas pessoas eram tão corajosas para coisas tão supérfluas. Sorriu de canto quando viu mais um casal entrar num pub uns três passos à sua frente. Holly apertou o único casaco que havia colocado antes de sair de casa e ajeitou suas luvas. Ela amava o frio e jamais fugiria dele. Andou mais alguns passos e parou na grande janela do pub onde o casal havia entrado há pouco. Observou as pessoas sorrindo e bebendo, algumas conversavam, outras jogavam baralho ou sinuca. Segurou sua câmera fotográfica profissional e retirou a alça desta de seu pescoço. Levou a câmera à altura de seus olhos e focalizou através da lente todas as expressões de felicidade que podia perceber, eternizando-as em fotografias. As pessoas estavam tão dispersas que nem notaram a estranha que os fotografava. Holly passeou mais alguns segundos sua lente pelo pub antes de parar instantaneamente em uma cena, no mínimo, comovente.

Aquele mesmo casal estava parado, já livre de todos os casacos e luvas que vestia antes, trocando palavras em silêncio. A garota, de cabelos pretos e olhos de um tom de azul estupidamente bonito, estava sentada em um dos bancos com o braço apoiado no balcão do bar do pub, segurando uma caneca de chopp. O rapaz, meio forte meio magro e de capuz, encontrava-se em pé exatamente a sua frente, com uma caneca igual à de sua namorada na mão. Os dois apenas trocavam olhares, uma conversa desprovida de fonemas e letras, um puro sentimento impregnando o ar. Eles pareciam ter esquecido toda algazarra que estava acontecendo ao redor e se perderam em um bosque de paredes altas, um bosque que haviam acabado de construir.

Após alguns segundos, a garota sorriu. Não um sorriso comum, ela sorriu com os olhos.

Nessa hora, Holly saiu de seu pequeno transe e apertou o botão que eternizaria aquele momento em uma imagem. Sem pensar de novo, ela deu dois passos para trás e recolocou a alça da câmera em seu pescoço.

Depois, continuou sua caminhada ignorando o aperto constante que a cena havia causado em seu coração.

Rodapé: Existe uma narrativa completa, mas, por agora, sossego com o primeiro capítulo. Descrônicando em crônica. Espero que gostem.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Constelação particular.

Faz um tempo desde a última vez que troquei um palavreado chocho por alguns segundos de sabedoria profanados por sua boca. Desrespeitoso como sempre, lembro de todas as vezes - uma a uma - que tirei meu chapéu em sinal de respeito às palavras desonrosas que espalhava pelo ar, era quase um deleite ouvir sua voz soar pelos quatro cômodos da casa. Era ainda mais maravilhoso quando me fazia sentir as punhaladas que desferia ao mundo, mesmo sem usar de força física. Cada uma como um apazíguo ao meu coração infantil, sem cacife para revidar as trapalhadas maltrapilhas e as peças que foram pregadas em meu caminho. Através de você, e somente de você, que me vinguei da vida.

Honestamente, não sei porque - até hoje - resolveu partir. Imagino que a pequenez do cômodo no qual se escondia dos raios solares o tenha angustiado, mudado seu discurso, e te transformado em um nômade das galáxias. Assim como o pequeno príncipe. Sei que se lembra de todas as falas, você dispensava o livro para contar a história para mim, um pouco antes da hora do sono. Para confessar, sempre te imaginei voando em uma nave com estoque de balas de goma, obras de Tolstói e Dostoiévski, além do seu inseparável "A Metamorfose", do menino Kafka.

Você sempre esteve, não sei como explicar claramente, em transição... Acho que essa palavra cabe. Transição. Todo dia, quando chegava para um café, o sabor que me servia era diferente. Quase como se o pó do café mudasse dia após dia, mesmo sem vencer ou passar por qualquer dano. Agora, um pouco mais consequente de meus atos, entendo que não era o pó. Era a mão. A sua mão mudava o jeito de fazer café todos os dias. Do mesmo jeito que você mudava o jeito de segurar o livro, a xícara, o jeito de atender a porta e o jeito de olhar pra mim. A única coisa que permaneceu a mesma em você foi meu porto seguro, que não arredava pé do seu colo.

Houve um segredo desde o início. Não sei se nos seus olhos havia uma mensagem, mas sempre me vi avisada que sua partida era iminente. E jamais pensei em te prender aqui. É isso o que vim te sussurrar, mesmo que por linhas afonemadas - se me abre exceção para um neologismo. Espero que saiba, em qualquer mundo perdido do universo que tenha construído um novo barraquinho e faça café quentinho todo dia, que jamais o quis prender à rédeas. Eu gostava do gosto diferente do seu café todo dia, e isso é tudo.

Apesar desse último parágrafo, estou quase convencida que sabia muito bem que podia partir a qualquer momento. E que eu ficaria bem, mesmo  sem seu colo, seu café, suas profanações e minhas vinganças apropriadas. Você sempre sabia de tudo, não é? Sabia quando eu ia bater a sua porta, por isso a abria de jeitos diferentes. Sabia que eu não gostava de café, por isso mudava o gosto dele, apenas para me manter interessada. Sabia que eu entendia muito mais da história quando você não lia, mas sim contava olhando para os meus olhos, para que pudesse enxergar o meu pequeno príncipe em ti. Sabia que eu precisava de colo, e por isso nunca o tirou do lugar.

Em alguns momentos, sinto que veio para a terra viver apenas para mim por um tempo. E partiu. Porque tinha outras missões, ou porque cansou do quarto  com paredes mal lavadas. Porque injuriou das balas de goma daqui e quis experimentar a de outros universos. Antes de você partir, eu não tinha hábitos. A vida passava à cavalo por cima dos meus projetos minuciosamente desenhados e eu montava outros. Sem refazer. Olhando para o que ficou para trás, sem me importar com o que carregava em mãos. Mas hoje... Hoje não preciso mais me vingar da vida. Carrego com paixão o que está em meus braços, olhando para a frente. Olhando para o céu. Olhando para você ai em cima, em sua nave, comendo balas de goma espaciais e contando Guerra e Paz para si mesmo. Sem paredes. Sem se esconder em um quarto escuro. Assim como eu não me escondo mais.

Sei que não tem tempo para ler um relato nostálgico de uma louca que invadia sua casa todos os dias para tomar café. Só queria fazer um convite para quando estiver por aqui de novo... Passe na minha casa. Faço um café caprichado, com cheiro de campo e gosto de cidade grande. Passe para saber que seu colo deu resultado e que não existe remorso nenhum entre nós. Passe aqui, deixe seu número, sua caixa  postal para que possa te enviar o resto dos livros que não couberam em sua pequena nave. Só passe aqui. Passe por mim.

Passe para eu ter a oportunidade, pelo menos por essa vez, de dizer tchau.  

domingo, 15 de setembro de 2013

Que é essa putaria na estrada?

Eu digo para recolher suas dores, elas estão atrapalhando minha passagem. Digo para enjaular seus monstros porque eles não me assustam e só servem para enfeiar a paisagem. Digo para engolir seu egocentrismo porque ele atiça meu estresse. Digo para olhar para os lados e tomar cuidado para não pisar em ninguém, o mundo não é um tapete no qual você possa limpar a merda do sapato. Digo para pensar no que vai dizer, e pense mesmo, ninguém é obrigado a ouvir suas ladainhas individuais. Digo para crescer. Digo para ser. E digo mais... Seja fora do meu caminho.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Que papo é esse, Willis?

Sabe aquelas horas que você para e pensa: "Deus, o que estou fazendo com a minha vida?".

Poética do desalento

Do vazio do mundo
sobram paredes cheias
frases sobrepostas
sobreditas
sobrefeitas

Dos verdadeiros sofredores
sobram o anonimato
reclusão

Dos que acham que sofrem
sobram a mentira
depressão
e o vazio do mundo.

domingo, 8 de setembro de 2013

Pressa.

Despertador. Cobertor. Chinelo. Carpete. Pia. Escova. Pasta de dentes. Espelho. Pente. Espelho. Carpete. Armário. Blazer. Carpete. Piso branco. Maçã. Piso branco. Carpete. Porta. Elevador. Espelho. Botão. Espelho. Mármore. Porteiro. Portão. Asfalto. Calçada. Piso de borracha. Escada rolante. Fila. Carteira. Dinheiro. Bilhete. Piso de borracha. Catraca. Buraco do bilhete. Catraca. Piso de borracha. Escada rolante. Tênis. Sandália. Sapato. Tênis. Tênis. Salto. Salto. Salto. Sapato. Preto. Ai! Trombada. Olhos. Amor. Aceno. Ressaca de amor. Piso de borracha. Escada rolante. Faixa amarela. Metrô.

"Próxima estação".

sábado, 7 de setembro de 2013

Sobre ser sozinha.

Às vezes você é sozinho sem querer.

Tímido demais, estranho demais, retido demais, chato demais, feio demais ou bonito demais... Não importa. As pessoas são sozinhas apenas quando querem ser. Todo mundo é diferente. Somos nós quem construímos muros ao redor de nossas próprias casas, e ai ninguém entra ou sai.

Pouca gente atravessou meus muros.

E eu admito que foi porque não deixei. Meus muros são mais vigiados que o Muro de Berlim, quando ativo. E ainda tenho aqueles elementos emergenciais, para quando algum engraçado passa sem permissão. Solto os cachorros em cima sem dó. Se eu não deixei entrar, não entre. A minha casa não consegue abrigar qualquer um.

É claro que antes do muro existiu a guerra.

Você não constrói uma proteção se nunca foi ferido, isso é fato. E depois que o fez, pensa em como seria sua vida sem ele. Quase como a Alemanha Oriental percebia a Alemanha Ocidental acontecendo, tudo do outro lado do muro. E ai você aumenta seus muros porque não quer ver, nem imaginar, o que está acontecendo fora. 

O porque da guerra eu não sei, ninguém sabe. As consequências sempre são mais visíveis que seus motivos.


Entendendo o nada

Parei para pensar nas coisas erradas do mundo.

Parei e comecei a me perguntar por que Deus havia abandonado todas essas coisas. Por que ele abandonara o homem da rua, as crianças famintas da África, os depressivos e psicóticos, as pessoas pobres que não podem pagar por seu sustento? Por que Ele deixa que milhares de vidas sejam perdidas em guerras, no tráfico ou no crime? Por que deixa que existam homens ruins, corajosos o suficiente para tirar a vida de alguém? Por que as pessoas tiram a própria vida?

Quando assisto documentários sobre as coisas erradas do mundo, fico instigada em como essas mesmas pessoas mostram Deus no olhar. Talvez não os psicóticos e os homens ruins, mas os outros sim. Será que toda a desgraça da vida já não os fez perder a esperança?

Por outro lada, fico pensando em como as pessoas que têm tudo insistem em reclamar, em minimizar a própria vida como se fosse um nada jogado ao léu. Eu não vejo Deus nos olhos de quem tem tudo.

Acho que não foram as coisas erradas quem Ele abandonou. 

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Só pode ser doença...

Você sabe a nota, conferiu a soma, falou com professores...

Mas só sossega quando lê 'Aprovado' no histórico oficial.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

De graça com a cara da fulana...

Minha mente ta parecendo um disco riscado de coisas que eu já pensei, e já pensei, e já pensei, e já pensei... Não ligo de pensar não, seu moço, mas pensar a mesma coisa? Tá parecendo as músicas da Anitta que demoram 4h pra descolar da memória. Aliás, tem o mesmo efeito.

Você acha que esqueceu, só que quando a música toca conhece a letra inteira.

Sobre saber fazer chorar

Das coisas que doem na vida, posso falar de machucados, reclamações, xingamentos, bronca de pai ou mãe e beliscões. Posso falar também de notícia ruim, de cirurgia, de aparelho dentário e exercício físico para quem é sedentário. Olhares tortos, bom dias recusados, café frio, filme ruim de livro bom ou filme bom de livro ruim aparecem na lista. Eu achava que sabia o que era dor, mas só soube quando vi meu amor chorar. E doeu demais, sabe. Doeu mais ainda quando chorou por minha causa. E essa, além de estar no topo da lista de ‘minhas dores do mundo’, também está na lista de ‘coisas que eu nunca vou me perdoar’.

Here we go again...

Quando você quebra o quinquagésimo celular que já teve e conta para a irmã, ela responde simplesmente:



Minha família tem probleminhas, mas é justamente por isso que eu amo fazer parte dela.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Ser banana é politicamente correto

Sobre a palestra "Death Happens", do Chef Alex Atala.

Ser politicamente correto não significa fechar os olhos, significa saber e ser consciente do que acontece ao seu redor. Saber de onde vem o que você come é a primeira coisa, ou você acha que a carne que consome é feita em laboratório? Todos os dias milhares de animais são mortos, tendo quase 60% da carne desperdiçada - o que leva, a meu ver, a uma morte vã. As especialidades da gastronomia estão ai justamente para mostrar como tudo pode ser utilizado, não apenas retirar 40% da carne de um animal e jogar o resto fora, como se não valesse nada.

O Chef Atala mostrou o que acontece antes do seu bife chegar a mesa. Simples. 

E aproveitou tudo o que foi retirado. Isso é consumo responsável, inteligente. É atribuir juízo de valor as coisas. Afinal, para o bife chegar na sua geladeira um boi inteiro morreu. Uma vida, por assim dizer. Sou vegetariana e não sou contra o consumo, sou contra perda de juízos de valores. E ainda acho que um animal vale mais que muita gente ruim do mundo. Então algumas pessoas deviam engolir a hipocrisia, conhecer a história do chef e, melhor, saber de onde vem o pão de cada dia. 
Esse papo de escondido é mais gostoso não existe. Nós estamos acostumados a simplesmente fechar os olhos para tudo de ruim que existe a nossa volta. Isso com a carne, com a saúde, com a educação, com as guerras, com a política, com preconceitos, com tudo. Cegueira nunca foi boa para ninguém, e não estou falando de cegueira física mas sim moral e ética. Fingir que algo não acontece não te faz ético ou politicamente correto, te faz apenas inconveniente e nulo aos acontecimentos.

Alex Atala em palestra no simpósio MAD

O juízo de valor que comentei se perdeu em tudo. Em 'O Capital' (1867), Karl Marx classifica essa perda de juízo de valor com relação ao trabalho em meio ao sistema capitalista - cita o trabalhador que vende sua força de produção, ou seja, vende-se por um determinado período para produzir algo que não é seu e muito menos terá dinheiro para comprar, pois sua força de produção vale menos do que o que foi produzido.
Após fazer a leitura do capítulo que aborda esse assunto, ficou claro em minha mente como damos valor às coisas erradas. Invertemos os papeis, o produto vale mais que o produtor ou o que foi perdido no processo de produção. O final vale mais que o começo. Até a vida é assim, nós valorizamos mais onde vamos acabar do que o lugar onde começamos.

O ponto onde quero chegar é...

Consumir carne não vai te levar para o inferno. Xingar um Chef de mau caráter não vai te levar para o céu. Ser hipócrita e ignorar tudo o que está escrito para todo mundo ler/saber como se fosse a melhor pessoa do mundo não te garante lugar nenhum, nem mesmo no mundo.

E é isso.

Desculpas esfarrapadas

Quero encontrar meus olhos com os teus. Quero viver aquela aventura que guardei a sete chaves no peito. Quero construir aquele castelo de gelo, só para ver sua imagem refletida em todas as paredes. Quero ter vontade de escrever seu nome em todos os meus cadernos, nas árvores e nos carros sujos com a ponta dos dedos. Quero pensar na rua e em você, na lição e em você, nos pássaros e em você. Quero suar você. Quero sentir seu cheiro em todas as coisas boas e nas ruins também. Quero que preencha todos os espaços do meu dia. Quero que tudo isso aconteça dentro e fora da minha mente. Quero parar de me enganar. Quero que nós paremos de nos enganar.

E quero que não inventemos mais desculpas esfarrapadas para o nosso amor não ser do jeito que deveria.

Dúvidas

Será que é tarde demais para dizer que mudei de ideia?

terça-feira, 27 de agosto de 2013

De gente grande para os babacas da estrada

Querido babaca,

Você está estudando todos os módulos da universidade junto comigo, então fazer-te-ei uma simples pergunta: não aprendeu nada ou só não coloca em prática mesmo? Lembra-se de todos aqueles textos sobre trabalho conjunto, sobre aceitar opinião dos outros, sobre ser um grupo?
Sei que ser analfabeto funcional consome muito do seu tempo, mas seu déficit deu as caras no meu trabalho, portanto na minha vida, e eu não gostei nem um pouco dele. Ele é feio e, além de feio, te cega. Acho que bateu uma foto bem grande do seu umbigo e colocou na sua cara, dai você acaba não enxergando mais nada. Eu até entendo. Carregar a Burrice nas costas deve ser um fardo pesado, porque vou te dizer, a bicha é grande.

De qualquer forma, espero honestamente que se livre dela um dia. Pelo seu bem e pelo bem dos pobres coitados que se aventurarão em um novo trabalho contigo.

Com dó,

Jenni.

Sobre não saber sabendo tudo

Certas coisas nós simplesmente sabemos. Não sei dizer se é algo empírico, mas nós simplesmente sabemos. Sabemos que a água molha, sabemos que o dia amanhece e escurece, sabemos que o ar é invisível, sabemos que a vida começa, dura e acaba. Sabemos que o ar precisa entrar em nossos pulmões e que o coração não pode parar. Sabemos as escolhas que devemos fazer e aquelas que queremos fazer. Sabemos que vamos nos dar mal no começo, no meio ou no fim do caminho quando escolhemos mal. Sabemos fingir que escolhemos bem. Sabemos o que é certo.

Mas teimamos em escolher o que é errado.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Cegueira permitida

É um desespero incondicional, que não te larga, que te coloca em um quarto fechado e te obriga a conviver consigo mesmo. É no escuro que reconhece a verdade e, ainda nele, nega-a para si mesmo pela milésima vez. Como uma jaula que construiu com as próprias mãos, sem usar de grades para entrada de luz. Como um lugar só seu, onde não precisa fechar os olhos para não ver.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Desavergonhice

Hoje despi-me de minhas máscaras e roupas.

Nua, diante de uma multidão incansável que não para, mostrei minhas vergonhas para o mundo. Para o meu mundo. Cheguei em casa, tranquei a porta e vivi um dia para mim. Um dia que eu não tinha há muito tempo.

Podia ter feito muita coisa. Devia ter feito muita coisa.

Simplesmente me recolhi à minha insignificância e, diante de um Deus todo poderoso, coloquei a minha pessoa em primeiro lugar. E esqueci tudo. Esqueci vida de fora. Vivi meu mundo pelas 24 horas mais perfeitas que já passaram pelo relógio.

Me dispus a organizar gavetas internas, só que elas transbordaram e fui obrigada a sair correndo. 

Observei os trabalhadores inquietos, gozando da minha preguiça e má disposição para participar daquela ladainha rotineira. Eles nem me perceberam na janela, assistindo sua desgraça cotidiana. Estavam perdidos nela.

Só que tão rápido como veio, passou.

Amanhã cumprirei minha própria ladainha, fazendo questão de olhar para as janelas e gritar para aqueles que estão na janela de seus próprios mundos:

- Desavergonhados! 

Seja lá o que for...

Não foi o que eu comprei um ano atrás.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Utopia

De tanta coisa
Tanta coisa se foi
Que de tanta coisa
Foi coisa que a gente fez

E de coisas verdadeiras
E coisas mentiras
Tinha mais coisa mentira
Que coisa verdade

Mas tinha tanta coisa
Que 'to pra dizer:
Era tanta coisa mentira
Que parecia até coisa verdade

E eu acreditei sem perceber.

Eu não entendo

Onde foi que paramos de ser curiosos?
Quando paramos de questionar?
Quando o mundo parou de girar?
Quando esse imediatismo começou a atiçar nossa preguiça?
Por que ninguém mais tem tempo para sentar e entender?

Onde, quando, por quê? Me diz.

Paris...

Acordeon não me lembra forró, me lembra as ruas de Paris.
Não que eu já tenha passado por lá com o corpo, mas com a alma... Com essa sim.
E ai toda vez que escuto esse instrumento acende uma luzinha no meu coração.
Escuto Aznavour soando pelo ar.

Isso deve ser aquele amor platônico sabe?
Aquele que a gente sente na cabeça e esquenta o coração.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

O Homem que Lê...

Eu lia há muito. Desde que esta tarde 
com o seu ruído de chuva chegou às janelas. 

Abstraí-me do vento lá fora: 
o meu livro era difícil. 
Olhei as suas páginas como rostos 
que se ensombram pela profunda reflexão 
e em redor da minha leitura parava o tempo. — 
De repente sobre as páginas lançou-se uma luz 
e em vez da tímida confusão de palavras 
estava: tarde, tarde… em todas elas. 
Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já 
as longas linhas, e as palavras rolam 
dos seus fios, para onde elas querem. 
Então sei: sobre os jardins 
transbordantes, radiantes, abriram-se os céus; 
o sol deve ter surgido de novo. — 
E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança: 
o que está disperso ordena-se em poucos grupos, 
obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas 
e estranhamente longe, como se significasse algo mais, 
ouve-se o pouco que ainda acontece. 

E quando agora levantar os olhos deste livro, 
nada será estranho, tudo grande. 
Aí fora existe o que vivo dentro de mim 
e aqui e mais além nada tem fronteiras; 
apenas me entreteço mais ainda com ele 
quando o meu olhar se adapta às coisas 
e à grave simplicidade das multidões, — 
então a terra cresce acima de si mesma. 
E parece que abarca todo o céu: 
a primeira estrela é como a última casa

(Rainer Maria Rilke)

E, claro, na interpretação maravilhosa de HpCharles.

Sobre não saber fazer poesia...

É na desatenção
Que a gente se atenta
É no desânimo
Que a gente se anima
É do fundo
Que a gente chega em cima
É não sabendo de nada
Que a gente sabe
É escrevendo poesia
Que, bom, a gente aprende.

Genética Brown.

Charlie Brown
Algumas pessoas nascem com sorte.

Elas tem um gene especial, uma herança monogênica, locado em algum dos braços de algum cromossomo perdido no nosso núcleo celular. É isso ai. As pessoas já nascem com isso presente em cada célula do corpo, tornando-a brilhante, feliz... Uma pessoa de sorte.

Mas eu, moço, não vim com isso não.

Estou começando a acreditar naquela coisa de predestinação, sabe? Aquela lá de que Deus colocou uma carinha feliz na testa de todos os que iriam pro céu antes mesmo dos benditos nascerem. E essa predestinação se expressa nesse gene ai, que fica no locus felicidade do cromossomo.

Então eu digo que minha genética é Brown.

Não, não é o nome de um cientista. É Brown de Charlie Brown mesmo. Nós dois não fomos premiados com esse gene, então nosso locus felicidade está vago. Alguma coisa devia ser expressa por ali, com certeza, porque podemos sentir a falta dessa proteína em cada célula do corpo.

Agora, vem cá... Tanto gene pra botar defeito, e cai logo nesse?

Somos predestinados ao azar. Tudo o que fazemos costuma dar errado, simplesmente porque é assim que tem que ser. Errado. E toda vez que dá errado bate aquele vazio existencial, no qual tudo está lá, mas nada faz sentido. Nada é válido.

E você se sente uma pedra ambulante.

Só que eu só quero deixar um recado para quem tem esse gene, ou para quem Deus colocou o sorriso na testa: eu não sou uma perdedora. Com ou sem sorte vou correr atrás, vou ter tudo o que a ausência desse gene tirou de mim. Um dia vou ganhar esse sorriso na testa também, e por merecimento, não por predestinação.

Eu acredito na epigenética e mais: ela guardou um lugar especial para mim no céu.

PS.: Um dia chegaremos lá, Charlie Brown!

domingo, 18 de agosto de 2013

Voo Contra o Câncer

Bom, certas ideias são, ao meu ver, geniais.
Como estudante da área da saúde e sabendo das deficiências do sistema, achei a campanha Voo Contra o Câncer sensacional. Mesmo.

Talvez existam interesses particulares, comerciais ou o que mais for por trás disso tudo.

Mas, honestamente, seria uma ajuda absurda para as pessoas que são tratadas lá. Muitas vezes os pacientes não estão em condições para enfrentar grandes trajetos dentro de um carro, ou qualquer outro veículo.

O Hospital de Câncer de Barretos é o maior centro especializado da América Latina, atendendo mais de 4.000 pacientes do Sistema Único de Saúde por dia, oferecendo o melhor suporte médico e estrutural para os internos. É de suma importância que as pessoas cheguem rápido por lá, principalmente casos emergenciais.

Já que existe um aeroporto livre, por que não fazer esse esforço? Precisamos apenas que sejam criadas linhas de voo direto para Barretos.

Como dito: "não faltam passageiros, não falta infraestrutura, só falta o avião".

Seu clique pode virar um avião e salvar vidas.

Boa noite, sonhem com tartarugas voadoras (:


Sobre manias do capiroto...

Eu tenho essas manias assim, sabe? Essas coisas de achar que tudo está virado ao contrário e aquele mimimi que inflige pânico a pessoas de alma fraca, de caráter fraco. É isso ai que você leu, tenho um caráter preguiçoso do cacete.
Ele não sabe se impor. Não sabe ser feliz. Não sabe ser triste. Não sabe ser mal-amado, muito menos bem-amado. É o filo de uma boa vagabunda preguiçosa que não levanta a bunda nem para exibir a dignidade, o direito, de sair dos lugares que lhe fazem mal.

Com todo o respeito das palavras, um imprestável.

Imprestável porque abaixa a cabeça pra qualquer porcaria. Mesmo que essa porcaria seja tão pequena que ninguém enxergue além dele. É um imprestável de boa visão, veja só. Tão boa que faz micropedras se transformarem em icebergs maiores do que o que afundou o Titanic.

Eu não ligaria tanto se ele fosse imprestável sozinho e não me arrastasse para o buraco também.

O maldito não gosta de ser sozinho. E às vezes, usando as palavras da Barbarah sem permissão, "quero abrir um zíper nas minhas costas e sair do meu corpo". Porque, na boa, essa vergonha não é minha. Essa fraqueza não é minha, eu não comprei, não roubei, nem paquerei a bendita pra ela colar em mim assim.

Vá se tratar peste. Esse corpo não é teu.

Então farei o seguinte: abrirei um zíper não para mim, mas para você sair aqui de dentro.

sábado, 17 de agosto de 2013

Silêncio.

Eu me sinto deixada de lado, sem atenção. Quer dizer, você nem entende o que digo, muito menos lê o que escrevo. E fico assim, fazendo textos para colorir algo que nem tenho certeza se delineamos juntos.

Só que eu me sinto egoísta por pensar isso. Então vou calar meus dedos e aquietar meu coração.

Boa noite,
Eu amo você.

Da incontinência existencial...

Fonte
Eu sou a terra.

E por assim o ser, tomo cuidado com pés desconhecidos. Minha sensibilidade é exacerbada, sofre com pés cegos que não tomam cuidado com o lugar onde pisam. Mas não me importo, pois faço esses mesmos pés fincarem ao chão. Faço com que saibam que não podem levantar voo, que eu sou a realidade e que é aqui, em mim, que devem permanecer.

Eu sou o fogo.

E por assim o ser, aqueço a terra. Esquento o espaço e os corações dos pés desolados. Faço a terra esquecer da realidade que precisa lembrar. Sou eu quem arde no sexo ocasional e também quem faz o amor aflorar na pele de primavera dos apaixonados. Apenas calor, mas também sei doer. Sei queimar. E de todo amor aflorado faço cinzas, queimo cada milímetro de pele pelo caminho. É ódio. Ódio por não ser aquecido por amor semelhante ao meu.

Eu sou a água.

E por assim o ser, apago o fogo. Como uma onda, carrego o ódio e as cinzas, substituindo-os por gelo, calma... Solidão. Escondo os ouvidos feridos por mentiras inconsequentes. Deixo a terra inerte, surda para sons exteriores. Deixo que ela exista para si mesma por alguns segundos. Apago a dor fulminante da primavera que já não existe mais.

Eu sou o ar.

E por assim o ser, movimento a água. Lembro a terra de que o inverno não pode durar para sempre e que às árvores não sobrevivem mais à solidão. Lembro-a também que dar ouvidos a si mesma é importante, porém não dar ouvidos a mais nada é egoísmo. Direciono os pássaros, as abelhas e as borboletas para que elas voltem a tocar as flores e a espalhar pólen por sobre as cinzas escurecidas, preparando a terra para uma nova primavera.

Primavera essa que a terra mal pode esperar para chegar.  

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

E eu que achava...

E eu que achava que não cabia no mundo, estou mais para achar que o mundo não cabe em mim.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Sabe que eu poderia ter feito tanta coisa...

Mas só sentei, chorei e fechei minha alma na caixa por um tempo.

Contei tartarugas até a dor passar.

Divergências.

E eu que não sei mais em qual universo paralelo nos esbarramos. Bem no início, com aquele cheiro de livro novo, de história nova, tudo parecia grande e importante. Tudo chamava. Tudo carregava uma placa luminosa de ‘descubra’, despertando a curiosidade e libertando a endorfina presa por tanto tempo nas cadeias da solidão. Mas venha cá, olhe nos meus olhos, diga onde estamos errando. Por que está tão difícil entender o que era só descoberta no passado? O que resta agora é aborrecimento, falta de interesse, falta de romantismo, de companheirismo, de risismo, de altruísmo e todos os ‘ismos’ do mundo.

O que resta agora é você, o abismo e eu.

Já não sei se meu amor consegue construir uma ponte tão grande.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Que se dane o mundo.

Essa loucura está me consumindo.

Coisas que eu não penso.

Eu penso em tudo. Penso nos elementos físicos e químicos, no átomo e em tudo o que ele pode formar sendo o feio ou bonito. Penso em astronomia, sobre como o sol arde todos os dias, independente dos problemas que o universo coloca no caminho. Penso no fogo, na terra, no ar e na água. Penso na estrada que pego todos os dias. Penso em quem não teve sorte na vida e também em quem teve de sobra. Penso nas pessoas que morrem e nas que vivem. Penso sobre todos os movimentos de xadrez antes da jogada. Penso em todas as alternativas possíveis para solucionar um problema, por mais que não me recorde da fórmula. Penso em tudo o que dá pra pensar. Penso que pensar demais só é ruim para quem não pensa nada. Penso que quase ninguém pensa hoje. Não é preciso. Compartilhar uma ideia anteriormente pensada é legal. É fácil. É questão de um botão. Penso que o mundo está muito copy and paste. Penso que o que eu li agora, vou ler de novo e de novo e de novo, só que dito por pessoas diferentes. Penso que não quero ser mais uma publicação no meio de milhões. Será que todo mundo sabe, realmente, o que está colando nas próprias paredes?

Pouco está colado na minha parede. Quase nada. Porque eu penso em entender.

Mas não penso em comprar mais cola. 

domingo, 11 de agosto de 2013

Às vezes é questão de tempo.

O Curioso Caso de Benjamin Button
O tempo não para.

Como se fosse ontem eu conheci outro lugar, outras pessoas, outro mundo. Aprendi a cair, levantar, desmontar, requebrar, beber, aprender, reaprender. Viver. Recordo que ainda ontem contava vantagem de quem se entregava para a fossa do amor enquanto eu simplesmente a abraçava e tequilava com ela pelas esquinas. Eu era suficiente. Era uma. Completa. Entregava amor para algumas pessoas e depois fingia que não as conhecia. Não queria mais. Desperdiçava pessoas pelo caminho como João e Maria largavam migalhas de pão para não se perder. Talvez fosse exatamente isso, eu sempre quis encontrar o caminho de volta.

E o tempo não para.

Não sei qual foi o exato momento em que tomei o caminho contrário. Talvez a casa de doces tenha me atraído e eu dei azar por não encontrar com a bendita Maria ou o João pelo caminho. Eles teriam me avisado, e eu voltaria correndo para o ponto inicial passando por todas as pessoas que larguei pelo caminho. E não perceberia, sabe, quanto amor eu já larguei por ai.

Mas o tempo não para.

Aos poucos, tive coragem de chegar perto da casa. Conhecer. Em alguns dias já estava enfeitiçada, plantada lá no gramado. Eu não queria sair, mas também não tinha coragem para entrar. E pra quê? Lá fora a vista era tão perfeita e ainda havia certo controle sobre a vontade de experimentar os doces. Eu ainda podia olhar, abandonar um pouco de amor por ali e voltar correndo.

Só que o tempo não perdoa.

Não perdoa porque me deixou lá. Parada. Não consegui largar a casa. Queria tanto, mas tanto, entrar que essa vontade superou todos os limites que eu já havia enfrentado. Então eu fiquei. Fiquei. Em um segundo notei que não era mais uma parte única. Era metade. Eu e a casa, juntas, formávamos uma. Eu já me sentia parte do cenário. Gostava do cheiro, da vista, do redor. Porém precisava conhecer dentro, e o maldito do medo me segurava fora. E em outro segundo reparei que o medo não significava mais nada, porque por mais que eu não entrasse na casa, a casa já estava dentro de mim. Eu a amava. Ela era minha.

O tempo conserta.

Larguei minha armadura, minhas armas, meus textos prepotentes todos jogados pelo chão. Caminhei em passos cautelosos, quase cambaleantes e parei em frente à porta. Bati uma vez e a porta não se abriu. Da segunda vez também não. Praticamente engolida pelo desespero da rejeição, virei às costas, pronta para correr e voltar para onde nunca devia ter saído. Quando dei o primeiro passo, um ruído vindo de dentro da casa fez meu coração dar uma volta completa.

A porta se abriu.
Eu entrei.
E não sai.

O tempo é sabido.

E o perdoo por ter me feito esperar.