quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Ser banana é politicamente correto

Sobre a palestra "Death Happens", do Chef Alex Atala.

Ser politicamente correto não significa fechar os olhos, significa saber e ser consciente do que acontece ao seu redor. Saber de onde vem o que você come é a primeira coisa, ou você acha que a carne que consome é feita em laboratório? Todos os dias milhares de animais são mortos, tendo quase 60% da carne desperdiçada - o que leva, a meu ver, a uma morte vã. As especialidades da gastronomia estão ai justamente para mostrar como tudo pode ser utilizado, não apenas retirar 40% da carne de um animal e jogar o resto fora, como se não valesse nada.

O Chef Atala mostrou o que acontece antes do seu bife chegar a mesa. Simples. 

E aproveitou tudo o que foi retirado. Isso é consumo responsável, inteligente. É atribuir juízo de valor as coisas. Afinal, para o bife chegar na sua geladeira um boi inteiro morreu. Uma vida, por assim dizer. Sou vegetariana e não sou contra o consumo, sou contra perda de juízos de valores. E ainda acho que um animal vale mais que muita gente ruim do mundo. Então algumas pessoas deviam engolir a hipocrisia, conhecer a história do chef e, melhor, saber de onde vem o pão de cada dia. 
Esse papo de escondido é mais gostoso não existe. Nós estamos acostumados a simplesmente fechar os olhos para tudo de ruim que existe a nossa volta. Isso com a carne, com a saúde, com a educação, com as guerras, com a política, com preconceitos, com tudo. Cegueira nunca foi boa para ninguém, e não estou falando de cegueira física mas sim moral e ética. Fingir que algo não acontece não te faz ético ou politicamente correto, te faz apenas inconveniente e nulo aos acontecimentos.

Alex Atala em palestra no simpósio MAD

O juízo de valor que comentei se perdeu em tudo. Em 'O Capital' (1867), Karl Marx classifica essa perda de juízo de valor com relação ao trabalho em meio ao sistema capitalista - cita o trabalhador que vende sua força de produção, ou seja, vende-se por um determinado período para produzir algo que não é seu e muito menos terá dinheiro para comprar, pois sua força de produção vale menos do que o que foi produzido.
Após fazer a leitura do capítulo que aborda esse assunto, ficou claro em minha mente como damos valor às coisas erradas. Invertemos os papeis, o produto vale mais que o produtor ou o que foi perdido no processo de produção. O final vale mais que o começo. Até a vida é assim, nós valorizamos mais onde vamos acabar do que o lugar onde começamos.

O ponto onde quero chegar é...

Consumir carne não vai te levar para o inferno. Xingar um Chef de mau caráter não vai te levar para o céu. Ser hipócrita e ignorar tudo o que está escrito para todo mundo ler/saber como se fosse a melhor pessoa do mundo não te garante lugar nenhum, nem mesmo no mundo.

E é isso.

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