domingo, 11 de agosto de 2013

Às vezes é questão de tempo.

O Curioso Caso de Benjamin Button
O tempo não para.

Como se fosse ontem eu conheci outro lugar, outras pessoas, outro mundo. Aprendi a cair, levantar, desmontar, requebrar, beber, aprender, reaprender. Viver. Recordo que ainda ontem contava vantagem de quem se entregava para a fossa do amor enquanto eu simplesmente a abraçava e tequilava com ela pelas esquinas. Eu era suficiente. Era uma. Completa. Entregava amor para algumas pessoas e depois fingia que não as conhecia. Não queria mais. Desperdiçava pessoas pelo caminho como João e Maria largavam migalhas de pão para não se perder. Talvez fosse exatamente isso, eu sempre quis encontrar o caminho de volta.

E o tempo não para.

Não sei qual foi o exato momento em que tomei o caminho contrário. Talvez a casa de doces tenha me atraído e eu dei azar por não encontrar com a bendita Maria ou o João pelo caminho. Eles teriam me avisado, e eu voltaria correndo para o ponto inicial passando por todas as pessoas que larguei pelo caminho. E não perceberia, sabe, quanto amor eu já larguei por ai.

Mas o tempo não para.

Aos poucos, tive coragem de chegar perto da casa. Conhecer. Em alguns dias já estava enfeitiçada, plantada lá no gramado. Eu não queria sair, mas também não tinha coragem para entrar. E pra quê? Lá fora a vista era tão perfeita e ainda havia certo controle sobre a vontade de experimentar os doces. Eu ainda podia olhar, abandonar um pouco de amor por ali e voltar correndo.

Só que o tempo não perdoa.

Não perdoa porque me deixou lá. Parada. Não consegui largar a casa. Queria tanto, mas tanto, entrar que essa vontade superou todos os limites que eu já havia enfrentado. Então eu fiquei. Fiquei. Em um segundo notei que não era mais uma parte única. Era metade. Eu e a casa, juntas, formávamos uma. Eu já me sentia parte do cenário. Gostava do cheiro, da vista, do redor. Porém precisava conhecer dentro, e o maldito do medo me segurava fora. E em outro segundo reparei que o medo não significava mais nada, porque por mais que eu não entrasse na casa, a casa já estava dentro de mim. Eu a amava. Ela era minha.

O tempo conserta.

Larguei minha armadura, minhas armas, meus textos prepotentes todos jogados pelo chão. Caminhei em passos cautelosos, quase cambaleantes e parei em frente à porta. Bati uma vez e a porta não se abriu. Da segunda vez também não. Praticamente engolida pelo desespero da rejeição, virei às costas, pronta para correr e voltar para onde nunca devia ter saído. Quando dei o primeiro passo, um ruído vindo de dentro da casa fez meu coração dar uma volta completa.

A porta se abriu.
Eu entrei.
E não sai.

O tempo é sabido.

E o perdoo por ter me feito esperar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário