terça-feira, 24 de setembro de 2013

Porque coisa boa a gente compartilha

Patricia Pirota é uma das pessoas mais fofas, perspicazes, inteligentes e divertidas pessoas que tenho a honra de acompanhar (oh yeah, online). Tem um blog lindo e um canal literário bom demais da conta. Já não bastasse tanta coisa boa, ainda nos presenteia com pequenos pensamentos como esse.

Acalento à solidão [Poemetos]


Construí todas as imagens
com restos de palavras
respingadas em café.
Subordinei todos os desejos
à existência de irregulares particípios.
Acho que sei o que quero...
mas dias como esse
sopram minhas cinzas
escondidas nos cantos do mundo.
Conjuguei todas as possibilidades
em meus tempos infinitos
Tudo para tentar compor vozes
que pudessem renovar minhas almas
e acalentar minhas solidões.

Patrícia Pirota
2006

Não perde tempo, não. Corre e aproveita tudo de bom que a Patricia já postou pra gente.

Avesso

De uma perdição
mal contada que só
pôs-se em flor

Em meio à falta
de amor,
desflorou

E quando entendeu
sem desaforos,
enfim, amou.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Descrônica.


Fonte

“Cause I'd rather feel pain than nothing at all” - Pain, Three Days Grace

Os ventos cortantes que invadiam a cidade tornavam-na vazia, já que os habitantes de Londres decidiram ficar dentro de suas casas, com o aquecedor ligado na potência mais alta, para fugir do outono gelado. Este dava indícios de como seria o inverno que não tardaria a chegar. As árvores lutavam contra o vento para não perderem as últimas folhas laranja que sobraram nos seus galhos compridos que apontavam para a lua, como em uma última prece para que a primavera não demorasse muito para dar as caras. 

Alguns londrinos festeiros não ligaram para a sensação térmica de trincar os dentes e saíram para aproveitar aquela noite fria de sexta feira. As poucas pessoas que podiam ser vistas caminhando pelas ruas estavam vestidas com dezenas de casacos, adquirindo uma aparência obesa. Essas pessoas logo entravam em algum dos pubs que podiam ser encontrados em praticamente cada esquina e, assim, davam início a uma noite nada fria regada a chopp e cerveja.

Caminhando pelas ruas, uma menina loira de grandes olhos verdes divertia-se vendo como algumas pessoas eram tão corajosas para coisas tão supérfluas. Sorriu de canto quando viu mais um casal entrar num pub uns três passos à sua frente. Holly apertou o único casaco que havia colocado antes de sair de casa e ajeitou suas luvas. Ela amava o frio e jamais fugiria dele. Andou mais alguns passos e parou na grande janela do pub onde o casal havia entrado há pouco. Observou as pessoas sorrindo e bebendo, algumas conversavam, outras jogavam baralho ou sinuca. Segurou sua câmera fotográfica profissional e retirou a alça desta de seu pescoço. Levou a câmera à altura de seus olhos e focalizou através da lente todas as expressões de felicidade que podia perceber, eternizando-as em fotografias. As pessoas estavam tão dispersas que nem notaram a estranha que os fotografava. Holly passeou mais alguns segundos sua lente pelo pub antes de parar instantaneamente em uma cena, no mínimo, comovente.

Aquele mesmo casal estava parado, já livre de todos os casacos e luvas que vestia antes, trocando palavras em silêncio. A garota, de cabelos pretos e olhos de um tom de azul estupidamente bonito, estava sentada em um dos bancos com o braço apoiado no balcão do bar do pub, segurando uma caneca de chopp. O rapaz, meio forte meio magro e de capuz, encontrava-se em pé exatamente a sua frente, com uma caneca igual à de sua namorada na mão. Os dois apenas trocavam olhares, uma conversa desprovida de fonemas e letras, um puro sentimento impregnando o ar. Eles pareciam ter esquecido toda algazarra que estava acontecendo ao redor e se perderam em um bosque de paredes altas, um bosque que haviam acabado de construir.

Após alguns segundos, a garota sorriu. Não um sorriso comum, ela sorriu com os olhos.

Nessa hora, Holly saiu de seu pequeno transe e apertou o botão que eternizaria aquele momento em uma imagem. Sem pensar de novo, ela deu dois passos para trás e recolocou a alça da câmera em seu pescoço.

Depois, continuou sua caminhada ignorando o aperto constante que a cena havia causado em seu coração.

Rodapé: Existe uma narrativa completa, mas, por agora, sossego com o primeiro capítulo. Descrônicando em crônica. Espero que gostem.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Constelação particular.

Faz um tempo desde a última vez que troquei um palavreado chocho por alguns segundos de sabedoria profanados por sua boca. Desrespeitoso como sempre, lembro de todas as vezes - uma a uma - que tirei meu chapéu em sinal de respeito às palavras desonrosas que espalhava pelo ar, era quase um deleite ouvir sua voz soar pelos quatro cômodos da casa. Era ainda mais maravilhoso quando me fazia sentir as punhaladas que desferia ao mundo, mesmo sem usar de força física. Cada uma como um apazíguo ao meu coração infantil, sem cacife para revidar as trapalhadas maltrapilhas e as peças que foram pregadas em meu caminho. Através de você, e somente de você, que me vinguei da vida.

Honestamente, não sei porque - até hoje - resolveu partir. Imagino que a pequenez do cômodo no qual se escondia dos raios solares o tenha angustiado, mudado seu discurso, e te transformado em um nômade das galáxias. Assim como o pequeno príncipe. Sei que se lembra de todas as falas, você dispensava o livro para contar a história para mim, um pouco antes da hora do sono. Para confessar, sempre te imaginei voando em uma nave com estoque de balas de goma, obras de Tolstói e Dostoiévski, além do seu inseparável "A Metamorfose", do menino Kafka.

Você sempre esteve, não sei como explicar claramente, em transição... Acho que essa palavra cabe. Transição. Todo dia, quando chegava para um café, o sabor que me servia era diferente. Quase como se o pó do café mudasse dia após dia, mesmo sem vencer ou passar por qualquer dano. Agora, um pouco mais consequente de meus atos, entendo que não era o pó. Era a mão. A sua mão mudava o jeito de fazer café todos os dias. Do mesmo jeito que você mudava o jeito de segurar o livro, a xícara, o jeito de atender a porta e o jeito de olhar pra mim. A única coisa que permaneceu a mesma em você foi meu porto seguro, que não arredava pé do seu colo.

Houve um segredo desde o início. Não sei se nos seus olhos havia uma mensagem, mas sempre me vi avisada que sua partida era iminente. E jamais pensei em te prender aqui. É isso o que vim te sussurrar, mesmo que por linhas afonemadas - se me abre exceção para um neologismo. Espero que saiba, em qualquer mundo perdido do universo que tenha construído um novo barraquinho e faça café quentinho todo dia, que jamais o quis prender à rédeas. Eu gostava do gosto diferente do seu café todo dia, e isso é tudo.

Apesar desse último parágrafo, estou quase convencida que sabia muito bem que podia partir a qualquer momento. E que eu ficaria bem, mesmo  sem seu colo, seu café, suas profanações e minhas vinganças apropriadas. Você sempre sabia de tudo, não é? Sabia quando eu ia bater a sua porta, por isso a abria de jeitos diferentes. Sabia que eu não gostava de café, por isso mudava o gosto dele, apenas para me manter interessada. Sabia que eu entendia muito mais da história quando você não lia, mas sim contava olhando para os meus olhos, para que pudesse enxergar o meu pequeno príncipe em ti. Sabia que eu precisava de colo, e por isso nunca o tirou do lugar.

Em alguns momentos, sinto que veio para a terra viver apenas para mim por um tempo. E partiu. Porque tinha outras missões, ou porque cansou do quarto  com paredes mal lavadas. Porque injuriou das balas de goma daqui e quis experimentar a de outros universos. Antes de você partir, eu não tinha hábitos. A vida passava à cavalo por cima dos meus projetos minuciosamente desenhados e eu montava outros. Sem refazer. Olhando para o que ficou para trás, sem me importar com o que carregava em mãos. Mas hoje... Hoje não preciso mais me vingar da vida. Carrego com paixão o que está em meus braços, olhando para a frente. Olhando para o céu. Olhando para você ai em cima, em sua nave, comendo balas de goma espaciais e contando Guerra e Paz para si mesmo. Sem paredes. Sem se esconder em um quarto escuro. Assim como eu não me escondo mais.

Sei que não tem tempo para ler um relato nostálgico de uma louca que invadia sua casa todos os dias para tomar café. Só queria fazer um convite para quando estiver por aqui de novo... Passe na minha casa. Faço um café caprichado, com cheiro de campo e gosto de cidade grande. Passe para saber que seu colo deu resultado e que não existe remorso nenhum entre nós. Passe aqui, deixe seu número, sua caixa  postal para que possa te enviar o resto dos livros que não couberam em sua pequena nave. Só passe aqui. Passe por mim.

Passe para eu ter a oportunidade, pelo menos por essa vez, de dizer tchau.  

domingo, 15 de setembro de 2013

Que é essa putaria na estrada?

Eu digo para recolher suas dores, elas estão atrapalhando minha passagem. Digo para enjaular seus monstros porque eles não me assustam e só servem para enfeiar a paisagem. Digo para engolir seu egocentrismo porque ele atiça meu estresse. Digo para olhar para os lados e tomar cuidado para não pisar em ninguém, o mundo não é um tapete no qual você possa limpar a merda do sapato. Digo para pensar no que vai dizer, e pense mesmo, ninguém é obrigado a ouvir suas ladainhas individuais. Digo para crescer. Digo para ser. E digo mais... Seja fora do meu caminho.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Que papo é esse, Willis?

Sabe aquelas horas que você para e pensa: "Deus, o que estou fazendo com a minha vida?".

Poética do desalento

Do vazio do mundo
sobram paredes cheias
frases sobrepostas
sobreditas
sobrefeitas

Dos verdadeiros sofredores
sobram o anonimato
reclusão

Dos que acham que sofrem
sobram a mentira
depressão
e o vazio do mundo.

domingo, 8 de setembro de 2013

Pressa.

Despertador. Cobertor. Chinelo. Carpete. Pia. Escova. Pasta de dentes. Espelho. Pente. Espelho. Carpete. Armário. Blazer. Carpete. Piso branco. Maçã. Piso branco. Carpete. Porta. Elevador. Espelho. Botão. Espelho. Mármore. Porteiro. Portão. Asfalto. Calçada. Piso de borracha. Escada rolante. Fila. Carteira. Dinheiro. Bilhete. Piso de borracha. Catraca. Buraco do bilhete. Catraca. Piso de borracha. Escada rolante. Tênis. Sandália. Sapato. Tênis. Tênis. Salto. Salto. Salto. Sapato. Preto. Ai! Trombada. Olhos. Amor. Aceno. Ressaca de amor. Piso de borracha. Escada rolante. Faixa amarela. Metrô.

"Próxima estação".

sábado, 7 de setembro de 2013

Sobre ser sozinha.

Às vezes você é sozinho sem querer.

Tímido demais, estranho demais, retido demais, chato demais, feio demais ou bonito demais... Não importa. As pessoas são sozinhas apenas quando querem ser. Todo mundo é diferente. Somos nós quem construímos muros ao redor de nossas próprias casas, e ai ninguém entra ou sai.

Pouca gente atravessou meus muros.

E eu admito que foi porque não deixei. Meus muros são mais vigiados que o Muro de Berlim, quando ativo. E ainda tenho aqueles elementos emergenciais, para quando algum engraçado passa sem permissão. Solto os cachorros em cima sem dó. Se eu não deixei entrar, não entre. A minha casa não consegue abrigar qualquer um.

É claro que antes do muro existiu a guerra.

Você não constrói uma proteção se nunca foi ferido, isso é fato. E depois que o fez, pensa em como seria sua vida sem ele. Quase como a Alemanha Oriental percebia a Alemanha Ocidental acontecendo, tudo do outro lado do muro. E ai você aumenta seus muros porque não quer ver, nem imaginar, o que está acontecendo fora. 

O porque da guerra eu não sei, ninguém sabe. As consequências sempre são mais visíveis que seus motivos.


Entendendo o nada

Parei para pensar nas coisas erradas do mundo.

Parei e comecei a me perguntar por que Deus havia abandonado todas essas coisas. Por que ele abandonara o homem da rua, as crianças famintas da África, os depressivos e psicóticos, as pessoas pobres que não podem pagar por seu sustento? Por que Ele deixa que milhares de vidas sejam perdidas em guerras, no tráfico ou no crime? Por que deixa que existam homens ruins, corajosos o suficiente para tirar a vida de alguém? Por que as pessoas tiram a própria vida?

Quando assisto documentários sobre as coisas erradas do mundo, fico instigada em como essas mesmas pessoas mostram Deus no olhar. Talvez não os psicóticos e os homens ruins, mas os outros sim. Será que toda a desgraça da vida já não os fez perder a esperança?

Por outro lada, fico pensando em como as pessoas que têm tudo insistem em reclamar, em minimizar a própria vida como se fosse um nada jogado ao léu. Eu não vejo Deus nos olhos de quem tem tudo.

Acho que não foram as coisas erradas quem Ele abandonou. 

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Só pode ser doença...

Você sabe a nota, conferiu a soma, falou com professores...

Mas só sossega quando lê 'Aprovado' no histórico oficial.